A imagem do Glauber Rocha não é muito conhecida e por isso pensamos em fazer stencil com sua figura por toda a cidade. A idéia de percorrer muros com tinta, no entanto, vai muito além de uma simples divulgação do evento que estamos fazendo sobre a obra do cineasta, “retrospectiva da fome ao sonho”.
Glauber, em meio a tantas idéias e revoluções, propõe que para um cinema verdadeiramente nosso, livre das amarras vindas da escravidão do método primeiromundista, é preciso uma mudança de linguagem. “Sem linguagem nova não há realidade nova”. Para nós, o stencil traz outra forma de comunicação, outra forma de se divulgar a tal imagem de Glauber. É, por assim dizer, outra forma de linguagem. Uma linguagem marginalizada e muitas vezes classificada como vandalismo.
O stencil não é reconhecido como arte, como linguagem, pela maioria das pessoas. Na verdade, é um crime, porque é visto como pichação. Invadir muros para escrever, pintar ou pichar algo é “coisa de marginal”. Essa forma de comunicar não é legitimada pela nossa organização econômico-social. Tanto em uma visão moralista quanto mercadológica. Como colocar uma mensagem, no nosso caso em forma de stencil, em um muro se você não tem permissão para isso? Como colocar uma idéia em um muro se você não pagou por ele?
Essa lógica que o stencil não segue é a lógica do merchandising, por exemplo. Pintar um muro na cidade sem pagar por ele é crime, seja ele propriedade privada ou patrimônio público, ele é de alguém. Campanhas de marketing também “poluem” visualmente a cidade, mas por entrarem dentro dessa lógica estrutural em que a nossa sociedade é moldada é aceito.
Nossa reflexão é que essas campanhas pagam pelo muro, mas o objetivo é o mesmo do stencil. Nenhuma das duas formas busca apenas o muro. O objetivo é invadir a cabeça das pessoas. A campanha de uma rede de fast-food não paga pelo espaço privado do seu cérebro, assim como a imagem do Glauber Rocha ali na esquina. A diferença está no objetivo. O stencil se propõe claramente ao que veio, está no muro pra que as pessoas vejam e reflitam. É uma linguagem revolucionária.
O objetivo do stencil é também refletir sobre novas formas de linguagem, se quisermos construir outra realidade. Assim, o stencil não é apenas do Glauber é também sobre o Glauber. Não se passa somente a imagem (ou a frase) do Glauber, mas também toda a idéia de mudar a linguagem, de revolucionar a forma. O stencil não segue a lógica econômico-social aceita de pagar pelo muro e não pagar (mas querer invadir) a sua mente. É outra forma de se comunicar, é uma quebra dessa lógica do mercado hipócrita pelo espaço do seu cérebro. É glauberiano.
Estou querendo fazer algo no túnel fluvial da marginal Botafogo em Goiânia, ou stencil ou texto... Mas o acesso é complicado, só de escada... Alguma ideia?
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